quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O Pior é a Impunidade. Por Heraldo Gomes

O atual procedimento preliminar de repressão na apuração de crimes, denominado "inquérito policial", é, hoje, diante da escalada criminal e da audácia dos marginais, um instrumento de defesa soci­al superado, porque lento e, apenas com valor informativo, não dá pronta resposta à agressão criminal; servindo, ainda, para ensejar contradição em beneficio do acusado, pela não confirmação na Jus­tiça dos atos formalizados na políciaÉ fato comprovado que o combate eficaz ao crime exige, entre outros resultados positivos, a redução expressiva das chances de impunidade.
 
Na realidade social dos povos, os motivos determinantes do crime são variados, mas, certamente, o fator acelerador da onda criminal é a impunidade, coadjuvada pela lei natural da imitação, reportada por Gabriel Tarde, pensador e jurista francês.
 
No campo do comportamento humano, os efeitos da impunidade são mais nocivos do que as conseqüências do próprio delito. Daí, se dizer: o pior não é o crime, o pior é a impunidade.
 
O inquérito policial como instrumento básico da repressão, res­ponsável direto pelo combate à impunidade, tomou-se, com o tem­po, em face da avalanche de ocorrências criminais, registradas nas grandes cidades, um meio burocrático de andamento moroso e, o que é mais dramático, usado, ainda, como linha auxiliar da impuni­dade, por ser, quase sempre, um documento alvo de contestação, mesmo quando elaborado e conduzido com absoluta imparcialidade, correção e veracidade, pela sempre presente possibilidade de sua não confirmação na fase judicial.
 
O desgaste funcional do inquérito policial é notado nas páginas de seus autos, que estampa estampam seguidos pedidos de baixa, informa­ções negativas e prazos estourados.
Ademais, na fase judicial, suas peças são questionadas no todo ou em parte, por ocasião da repetição da prova testemunhal perante o magistrado.
 
A nova versão emprestada às circunstâncias do crime, constata­da, freqüentemente, no Fórum Criminal é conseqüência dos seguin­tes fatores adversos:
Esquecimento - Meses e até anos se passam entre o depoimen­to prestado na polícia, durante o calor dos fatos e a convocação judi­cial.
 
Intimidação - No longo intervalo, verificado entre a data do crime e a repetição das declarações na Justiça, vítimas e testemu­nhas são pressionadas por terceiros no anonimato, vinculados aos acusados, que fazem graves ameaças, inclusive de morte, causando, assim, pânico nas pessoas envolvidas, que, coagidas, mudam na Jus­tiça suas declarações, ocorrendo, ainda, casos de auncia para evtar de depor.
Desaparecimento - Depois de depor na polícia, testemunhas e vítimas ficam temerosas e desaparecem, para escapar da convoca­ção judicial.
 
Visto pelo lado legal, o inquérito policial é questionado à luz do texto constitucional federal, pois sua feitura no modelo atual é passível de dúvida, diante do disposto na cláusula elencada no inciso LV, do art. 5° da Constituição federal, que garante aos acsados em geral o direito ao contraditório e à ampla defesa. E isso, como é sabido, não se pratica em qualquer ato do inquérito policial, que é, desde sua remota concepção, doutrinariamente, peça inquisitorial.

Então, em resumo, acontece o seguinte:
a) O inquérito policial é formulado em discordância com a norma constitucional;
b) caso o inquérito
policial não seja confirmado na Justiça, a
prova que prevalece é a recolhida pelo magistrado;
c) o inquérito policial retarda o pronunciamento da Justiça, por­que repetido meses depois do fato delituoso;
d) o inquérito policial serve à linha auxiliar para obter impunida­de, porque seu conteúdo conhecido de todos, por longo tempo, faci­lita, mediante intimidação ou outro tipo de causa, a mudança de ver­são na Justiça em favor do acusado, que tinha, inicialmente, contra si, incriminação na prova arrolada pela Polícia, no calor dos fatos e livre de coação.
 
Certamente é por tais motivos que a legislação estrangeira, majoritariamente, adota o Juizado de Instrução, como processo ágil, moderno, mais confiável e mais justo na apuração e julgamento dos fatos delituosos de qualquer natureza.
 
No direito comparado, o inquérito policial só existe no Brasil em certos países da África.
Na última Assembléia Nacional Constituinte foi debatido o Juizado de Instrução como inovação necessária no aprimoramento da prestação jurisdicional.
 
Todavia, o forte lobby formado pelo corporativismo policial, pelo iteresse de certos advogados e pelo comodismo do conservadorismo polí­tico fulminou a possibilidade de sua adoção, mantendo o arcaico inquéri­to policial, mesmo em choque com o aludido preceito constitucional.
 
Concretamente, instituir um sistema de coleta e produção de prova criminal, através do Juizado de Instrução, resulta nas seguintes vatagens:
·         Evita os atos burocráticos praticados no inquérito policial;
·         acaba com a necessidade de repetição, na Justiça, da prova testemunhal;
·         acelera o andamento da apuração, reduzindo o tempo decorri­do entre a data do fato e o julgamento do caso;
·         dificulta arranjos para obter impunidade;
·         confere maior autenticidade aos atos de Polícia Judiciária, pela valorização da investigação policial;
·         inibe a manipulação de testemunhas e vítimas, pelo imediato e único relato feito ao magistrado, livre de possível coação;
·         representa evolução democrática na repressão criminal, pela garantia do contraditório e da ampla defesa, em plena sintonia com os países desenvolvidos.
 
Finalizando, resta esclarecer que, no combate eficaz ao crime, o Juizado de Instrução é fundamental na aplicação da legislação pe­nal, em tempo certo e na sede adequada. Se adotado, seria um avan­ço no enfrentamento da criminalidade. Mas, como toda inovação, tem opositores, que invocam três argumentos: tradição jurídica, ex­teno territorial e falta de recursos. O lobby contra é forte, e a von­tade política está preocupada com outras questões, que julga mais urgentes. Todavia, tudo gira em tomo do nível de segurança públi­ca, sem o qual não há estabilidade político-administrativa, tranqüili­dade e desenvolvimento. Por isso, para vencer os lobistas do conservadorismo, uma alternativa correta talvez fosse propor ao Congresso Nacional a instituição do Juizado de Instrução, pelo me­nos para os casos de prisão em flagrante e casos de crimes com autoria conhecida.
 
(O Globo, 13/05/95)
* Heraldo Gomes é delegado de polícia civil do Estado do Rio de Janeiro e ex-secretário de Estado de Polícia Civil do RJ o governo Moreira Franco


Envido por Denzel Washington - Estudante de Direito

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O fututo do Direito na Bahia

No período em que o Judiciário Nacional está com sua credibilidade em baixa, observamos o jovem LUIZ ADRIANO ARAÚJO DE AGUIAR com 17 anos de idade e, ainda, cursando o 2o ano do segundo grau, aprovado no curso de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Fatos dessa natureza, nos traz ânimo para continuar a creditar que poderemos fazer um país melhor.

Vale ressaltar que seu Pai Francisco Aguiar atualmente está cursando o 5o semestre do curso de Direito em uma faculdade de Salvador-BA.

Texto: Francisco Aguiar
04/Fev/2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Acusado alega constrangimento ilegal na demora de 5 anos para STJ julgar HC

O ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), é o relator do Habeas Corpus (HC 107267) impetrado pela defesa de A.L.D., acusado de ter distribuído derivado de petróleo em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei, bem como ter depósito para venda de mercadoria imprópria para o consumo. A defesa alega que A.L.D. está sofrendo constrangimento ilegal pela demora de cinco anos no julgamento do mérito do HC no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Na inicial consta que A.L.D. responde a ação penal na 1ª Vara Criminal de Limeira (SP), pela suposta prática dos crimes contra a ordem econômica (artigo 1º, inciso I, da Lei 8.176/91) e contra as relações de consumo (artigo 7º, IX, da Lei 8137/90).
A defesa alega que as condutas imputadas a A.L. são atípicas. Por esse motivo, o advogado ingressou com habeas corpus perante o Tribunal de Justiça do estado de São Paulo (TJ-SP) que foi negado. E novamente, tentou perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ) em janeiro de 2006, porém o HC permanece concluso ao relator, aguardando julgamento de mérito.
Pelo fato de terem se passado mais de cinco anos, a defesa argumenta que a demora na prestação jurisdicional causa evidente constrangimento ilegal. “Ora, um instrumento que se presta a combater ilegalidades flagrantes de maneira célere não pode suportar uma demora de cinco anos para que se obtenha uma efetiva prestação jurisdicional”.
O advogado de A.L. assevera que a espera de cinco anos pela prestação jurisdicional configura também violação ao princípio constitucional da duração razoável do processo (artigo 5º, LXXVIII, da Carta Magna) “acentuado pelo fato de se tratar, no caso em tela, de matéria penal, que pode interferir diretamente na esfera de liberdade do indivíduo”.
Portanto, sustenta a defesa, em face do constrangimento ilegal, consubstanciado na demora para o julgamento do mérito do HC perante a 6ª Turma do STJ é que a defesa pede, liminarmente, que seja suspensa a ação penal em trâmite perante o juízo da 1ª Vara Criminal de Limeira até o julgamento do mérito do HC. E no mérito do pedido para que o STJ promova a imediata inclusão em pauta para julgamento do HC impetrado.
A defesa acrescenta ainda que a demora no julgamento não se deve a nenhum ato que possa ser atribuído à defesa de A.L. e ressalta que a ação penal em trâmite na primeira instância encontra-se na iminência de ser decidida. Assim, com a sentença, poderá ocorrer a condenação de A.L. a uma pena privativa de liberdade.

Fontes: STF

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Letra da musica Decisão Interlocutória:

Quando a gente estuda a interlocutória simples é legal:
Não põe fim ao processo e não julga o
mérito, isso é natural
Recebe a denúncia ou decreta contra o
réu a preventiva
Mas não se confunda com a terminativa
Que é outra decisão que nós vamos cantar
Eu sei que a interlocutória também será mista
Não terminativa, eu te dou a pista:
Como na pronúncia, o processo vai.
E a interlocutória mista que é terminativa
Sem julgar o mérito é decisiva
E esse tema sempre no Exame cai.

Artista: Professor Flávio Martins
Album: Otras
Música: Decisão Interlocutória


domingo, 13 de fevereiro de 2011

O conflito entre a ultratividade do artigo 3º do Código Penal e o Direito Fundamental contido no artigo 5º, XL, da Constituição Federal de 1988

Como entender o fenômeno da ultratividade do art. 3º do Código Penal frente ao princípio da irretroatividade da lei penal in pejus previsto no inciso XL do art. 5º da Constituição Federal? Será que aquele foi recepcionado por este? Sem aprofundar muito no tema, vejamos a possibilidade ou não.
É certo que um tópico como este merece uma introdução sobre princípios, porém não é o objetivo deste post, e sim estimular o debate, lançando diversas ideias sobre a questão.
De acordo com Cézar Roberto Bitencourt “as leis excepcionais e temporárias são leis que vigem por período predeterminado, pois nascem com a finalidade de regular circunstâncias transitórias especiais que, em situação normal, seriam desnecessárias.” Contudo, o legislador pátrio, além de introduzir a possibilidade da edição de tais normas em nosso ordenamento jurídico, adicionou a estas o fenômeno da ultratividade que nada mais é do que a aplicação da lei mesmo depois de revogada.
Entretanto, reza, o inciso XL do art. 5º da CF, que: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. O próprio Código Penal em seu artigo 2º reforça a ideia de que a lei mais benéfica irá beneficiar o réu, dando força e amplitude ao instituto do Abolitio Criminis, quando a lei posterior deixa de considerar como infração um fato que era anteriormente punido. O professor Damásio de Jesus considera “exceção ao princípio Tempus Regit Actrim a lei nova retroage, a antiga não possui ultratividade”.
Os defensores da ultratividade do artigo 3º do CP explicam que a sua falta de previsão legal causaria a perda da característica inibidora do Direito Penal, pois a pessoa sabendo da auto-revogação da lei poderia realizar crimes com a certeza de ocorrer à impunidade, gerando injustiça e insegurança jurídica.
Consideramos importante que o Direito Penal seja sempre respeitado, principalmente, em situações especiais que legitimem a utilização das leis temporárias e excepcionais. Mas, a forma utilizada pelo legislador ordinário, entendemos, fere a CF no que tange ao princípio da irretroatividade.
Não queremos com isso que os crimes praticados na vigência leis transitórias fiquem impunes, acreditamos apenas que o constituinte originário perdeu uma grande oportunidade de evitar situações duvidosas que não cabem na área penal. O que você acha?

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 33a. edição - São Paulo:Malheiros, 2010

JESUS, Damásio E. de. Direito Penal – Parte Geral. 31a ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1

            BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Vol.1. São Paulo: Saraiva, 2010.


Gilberto de Freitas  5º Semestre-Direito
gfsfilho@gmail.com

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Deixe aqui sua sugestão de assuntos para debates

Amigos,

Deixe aqui sua sugestão para debate de qualquer assunto referente ao Direito.

Caso você possua algum material pronto envie para o email adm@consultedireito.com.br para que eu possa postar aqui no blog e abrir o debate.

Obrigado